Tão Grande Dor - Timor

Foi com o poema de Sophia de Mello Breyner Andresen que iniciámos a atividade "No Poder da Palavra: a Liberdade".

Os alunos organizam um mural para apresentar no dia mundial da poesia através da aplicação online Padlet. Para tal, os alunos estão recolher e compilar poemas sobre Timor de autores portugueses e timorenses.  

Deixamos aqui o primeiro poema que partilhámos na aplicação.


Tão Grande Dor

<<Tão grande dor para tão pequeno povo>> palavras de um timorense à RTP


Timor fragilíssimo e distante
Do povo e da guerrilha
Evanescente nas brumas da montanha

<<Sândalo flor búfalo montanha
Cantos danças ritos
E a pureza dos gestos ancestrais>>

Em frente ao pasmo atento das crianças
Assim contava o poeta Rui Cinatti
Sentado no chão
Naquela noite em que voltara da viagem

Timor
Dever que não foi cumprido e que por isso dói

Depois vieram notícias desgarradas
Raras e confusas
Violências mortes crueldade
E anos após ano
Ia crescendo sempre a atrocidade
E dia a dia --- espanto prodígio assombro ---
Cresceu a valentia
Do povo e da guerrilha
Evanescente nas brumas da montanha

Timor cercado por um bruto silêncio
Mais pesado e mais espesso do que o muro
De Berlim que foi sempre falado
Porque não era um muro mas um cerco
Que por segundo cerco era cercado

O cerco da surdez dos consumistas
Tão cheios de jornais e de notícias

Mas como se fosse o milagre pedido
Pelo rio da prece ao som das balas
As imagens do massacre foram salvas
As imagens romperam os cercos do silêncio
Irromperam nos écrans e os surdos viram
A evidência nua das imagens

                      Sophia de Mello Breyner Andresen

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